Trieste fica no nordeste da Itália, na divisa com a Eslovênia, bem em frente ao Mar Adriático, elemento que trouxe prosperidade e poder à cidade. Por aqui passaram vários povos, mas foram os romanos que deixaram as primeiras marcas importantes da cidade. Com a queda do Império Romano, Trieste passou a domínio do Império Bizantino, depois dos francos, lutou contra a República de Veneza para finalmente se aliar ao Império Austríaco que manteve seu domínio até 1918. A cidade está repleta de vestígios dos períodos pelos quais passou, mas principalmente a imponência e a riqueza de detalhes dos estilos arquitetônicos neoclássico, neobarroco, neogótico e liberty.
O passeio começa pela praça principal a Piazza dell’Unità d’Italia, que dizem ser a maior praça da Europa de frente para o mar. Neste local ficam importantes palácios da cidade, como a sede da região Friuli, a prefeitura, o município, um hotel e o Palazzo Stratti, onde fica o famoso Caffè degli Specchi, um dos cafés históricos de Trieste. Outro ponto interessante da praça é a Fontana dei Quattro Continenti, uma fonte que, como o próprio nome diz, representa os 4 continentes descobertos até então (1754). Em 1938, quando Mussolini visitou Trieste, a fonte foi retirada da praça principal, era a época das leis raciais fascistas, um triste capítulo da história.
Em frente à Piazza dell’Unità vale conhecer o Molo Audace, o imenso pier onde triestinos e turistas passeiam quando a Bora, o famoso vento forte de Trieste, permite.
Trieste antiga e romana
Um dos itinerários do centro histórico é uma visita às construções e ruínas que restaram do período romano. Prepare as pernas que a subida até às colinas de San Giusto é bem íngreme. A partir da igreja de Santa Maria Maggiore (séc XVII) começamos subir a colina e explorar a área. A antiga cidade romana provavelmente foi criada por Júlio César na metade do século I a.C e um dos primeiros resquícios da colônia é o Arco di Riccardo.
Continuando a subida, a gente se deparou com a Cattedrale di San Giusto, o principal edifício religioso de Trieste. A atual igreja é a junção de dois antigos templos unidos em 1320 que resultou em uma catedral com 5 naves. As duas absides laterais são decoradas com mosaicos bizantinos do século XI, similares a alguns mosaicos de São Marcos, em Veneza. Eu fiquei realmente impressionada. Se tiver de escolher uma igreja para conhecer em Trieste, entre nesta. Atrás da igreja está o Castello di San Giusto, uma fortaleza que não visitamos por dentro. Mas o que impressiona são as ruínas muito bem conservadas da antiga Basilica Forense, construção do séc I a.C.
A Trieste antiga tem sua grande expressão no Teatro Romano construído no século I d.C. Na era moderna, o espaço foi descoberto somente em 1814 e em 1938 começaram as obras de demolição das casas que o cobriam. As estátuas que decoravam o teatro foram levadas para o Museu Cívico.
O borgo Teresiano
Terminado o passeio pela Trieste antiga, seguimos para o borgo Teresiano, uma pequena área da cidade construída no século XVIII pelo Imperador da Áustria Carlo VI e sua esposa Maria Teresa da Áustria. Este pedacinho da cidade tem um bom comércio e ruas fechadas ao tráfego de veículos e é uma delícia para passear. Por ali a gente encontrou a estátua do escritor irlandês James Joyce, que morou em Trieste onde foi professor de inglês.
Castello di Miramare
Não muito longe do centro histórico, no final da grande estrada à beira mar, vale a pena visitar o Castello di Miramare. De longe parece uma miragem pois a construção é isolada de todo o resto e parece entrar no meio do mar. A estrutura foi projetada pelo arquiteto Carl Junker e finalizada em 1860, quando recebeu seus moradores, Maximiliano da Áustria e sua mulher Carlotta da Bélgica. O período do casal no castelo foi breve, em 1864, partiram para o México, onde Maximiliano tornara imperador. A parte externa do castelo e seus jardins são apenas uma prévia do que a gente vê lá dentro. Os apartamentos, salões, escritório e biblioteca da família são ricamente decorados e muito bem conservados. São três andares em que cada ambiente é mais lindo do que o outro e que fazem com que o Castelo Miramare seja uma das atrações mais visitadas de Trieste. Fica aberto todos os dias (exceto 25 de dezembro e 1° de janeiro) e o ingresso custa 8 euros. Para mais informações, clique aqui.
Risiera di San Sabba
Eu queria muito conhecer este lugar e me afastei um pouco do centro durante a tarde para poder visitá-lo. A Risiera di San Sabba era uma antiga fábrica de produção de arroz desativada que em 1943 transformou-se em campo de detenção de militares italianos e meses depois em um campo de concentração nazista. Ali ficavam os judeus, presos políticos, partigiani à espera de seu cruel destino. A Risiera di San Sabba foi o único campo de concentração na Itália dotado de crematório. A visita a este lugar é tocante, triste e especial. Vou escrever um post dedicado à Risiera e ao recente museu muito bem desenvolvido. A Risiera fica aberta todos os dias (exceto 25 de dezembro e 1° de janeiro), das 9h às 19h, com ingresso gratuito. Para mais informações, clique aqui.
Trieste e o café
O porto de Trieste trouxe para a cidade o desenvolvimento com as trocas comerciais. Era o maior porto do Império Austríaco e um dos mais importantes da Europa. O café chegou na Itália partindo do mundo Árabe e conquistando Veneza no século XVI, mas foi em Trieste que se desenvolveu seu grande comércio. A cidade é sede a Illy Caffé, um verdadeiro gigante do café que exporta no mundo inteiro e utiliza os grãos de arábica, e grande parte de proveniência do Brasil. Os cafés históricos de Trieste têm um grande charme, eram os estabelecimentos por onde passaram intelectuais, escritores, políticos e gente comum da cidade. Vale a pena escolher um deles, sentar e saborear um bom café. Algumas sugestões: Caffè degli Specchi, Caffè Tommaseo, Caffè Torinese, Caffè Stella Polare, Caffè San Marco e a famosa Pasticceria Pirona.
Onde comer
Trieste tem bons restaurantes com pratos que bebem na tradição austríaca e eslovena. Para quem gosta de carne, uma das dicas é o tradicionalíssimo Buffet da Pepi. A dois passos da Piazza dell’Unità é um dos restaurantes históricos mais famosos e aclamados da cidade. Eu sou mais da cozinha de peixe e comi realmente muito bem na Hostaria Malcanton, esta também a poucos passos da Piazza dell’Unità. Pratos muito saborosos, feitos com peixe fresco e preço honesto.
As osterias osmiza

Não que as “osmizas” sejam um grande lugar para comer em Trieste, mas com certeza é uma experiência interessante. Em alguns períodos do ano, as pessoas que moram nas regiões mais afastadas do centro (na divisa com a Eslovênia) abrem suas casas e oferecem os produtos que elas mesmo fazem. Encontrar essas casas porém, é uma caça ao tesouro. Eles deixam um galho de árvore próximo com flechas que indicam o local e o nome da Osmiza, mas não é nada simples encontrar. Eu achei uma na cidadezinha de Cotonvello e se chamava Verginella. Um site para te ajudar a encontrar as Osmize é este aqui.
Onde dormir
Uma experiência que recomendo é hospedar-se em um hotel histórico de Trieste. O majestoso Hotel Savoia Excelsior foi construído em 1911 no período em que Trieste esteve sobre dominação austríaca. Reformado segundo projeto original, mantém a decoração e características da época e faz parte da rede Starhotels. O quarto onde fiquei, um suíte júnior tinha vista para o mar, era enorme e muito confortável. As amenities eram da Etro e no quarto tinha ainda café Illy (óbvio) e mimos como biscoitinhos, pillow menu. A varanda era grande, com uma mesinha pra gente curtir o por do sol. Experiência nota 10.
Trieste é mesmo encantadora e a proximidade com a Eslovênia e a Croácia a tornam ainda mais atraente. Vale a pena passar o dia e dormir na cidade para conhecer um pouco da sua história e hospitalidade. A experiência é ainda melhor acompanhada de um bom café.