Trabalhar na Itália- a minha experiência

Quando eu vim morar na Itália pela primeira vez, eu tinha apenas 22 anos. Tinha acabado de me formar na PUC Minas e queria fazer uma bela experiência na área de comunicação, no setor da moda. A pouca idade e a convicção inocente de poder abraçar o mundo fizeram com que eu pensasse que poderia ser fácil. O máximo da comunicação que eu consegui nos primeiros meses foi trabalhar na área de publicidade. Engana-se quem pensou em uma agência ou coisa assim, eu entregava uns flyers aqui e ali ou abordava turistas em busca de um lugar para ficar na cidade. Aquilo nada tinha a ver com as Relações Públicas e com o Marketing que eu tinha acabado de estudar na faculdade.

A minha primeira vera e própria experiência de trabalho na Itália foi um estágio na Gucci da Via Tornabuoni, em Firenze. Muito esperta e cheia de iniciativa, meses antes eu tinha ido a uma job fair e consegui uma entrevista para concorrer a uma bolsa de estudos para estudar na Polimoda, uma renomada escola de Firenze. E dali, terminado o curso, caí em uma entrevista de trabalho atemorizante em inglês e italiano para estagiar na loja.

Em 2005 com minhas colegas na Gucci
Em 2005 com minhas colegas na Gucci
Eu me lembro muito bem do momento: era a última coleção do Tom Ford para a marca e eu venderia sapatos carésimos para mulheres endinheiradas. Em um ambiente sóbrio e contido passeávamos entre vários sotaques, traços e cor de pele. A maioria dos vendedores eram estrangeiros e apesar do cansaço diário dos tempos áureos de grande resultado da marca, a gente se divertia, e muito. Fiquei na Gucci uns 6 ou 7 meses e como tinha distribuído uns currículos, acabei sendo chamada para a Dolce e Gabbana.

Momento de descontração na Dolce & Gabbana, 2005
Momento de descontração na Dolce & Gabbana, 2005
Não quero escrever meu currículo italiano em um post e resumo o que foi minha experiência por lá. Trabalhei por dois anos em uma ambiente não tão aberto e amigável quanto o da Gucci. Meus colegas eram quase todos italianos com um nível de escolaridade um pouco mais baixo que o meu. As únicas que tinham cursado a faculdade éramos eu e uma colega de origem russa muito inteligente. Cansada, voltei pro Brasil e segui minha estrada.

Quando vim morar na Itália pela segunda vez, era já uma mulher feita com alguma experiência profissional e de vida nas costas. Cheguei em uma Itália muito diferente do passado, onde as oportunidades eram reduzidas e recomeçar significava dar muitos passos para trás. Eu cursei um master em cultura da alimentação e do vinho na Ca’ Foscari em Veneza e fui fazer um estágio em uma vinícola. Foram quase 3 meses de scanner, photoshop e eventuais intervenções nas mídias sociais da empresa e muita paciência para aceitar um ambiente extremamente fechado, provinciano e uma tutora que se surpreendia por eu saber palavras como “algoritmo” e “stakeholders”. Não foi fácil. Não é fácil.

"Festa da firma",2006
“Festa da firma”,2006
Hoje eu trabalho em uma média empresa bem legal na área de comunicação digital. O ambiente de trabalho na Itália é completamente diferente do Brasil. Esperei 9 meses (eu fiz questão de contar) para ser convidada pela primeira vez para um happy hour. No Brasil, nos lugares onde trabalhei, fiz amizades de verdade, saía com os colegas e na sexta-feira “casual”, o almoço era uma verdadeira festa. Aqui as pessoas são bem mais fechadas, não contam muito das suas vidas e tendem a se agrupar com quem conhecem há mais tempo.
trabalho na itália
Minha mesa do atual trabalho
Os vênetos são pessoas muito fechadas e eu ainda sofro com outro problema: mesmo no ambiente de trabalho as pessoas falam o dialeto. Com o tempo tive que aprender para não me sentir um peixe fora d’água. Entendo, mas não falo. E compreendo que seja um modo, uma tradição e respeito que eles queiram manter, mas acho que no ambiente de trabalho é un po troppo. Com os anos e a maturidade, a gente entende que a admirar e a respeitar as diferenças é a chave para viver bem em qualquer tipo de relacionamento, mas principalmente no ambiente de trabalho. Na Itália não é diferente.

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